A representatividade na moda sempre foi um reflexo direto das estruturas sociais. Quando comecei a reparar nos desfiles, campanhas e vitrines, percebi que existia uma clara predominância de um padrão: corpos brancos, magros e europeizados. Mas o Brasil é um país de maioria negra e com forte presença de povos indígenas – por que, então, esses rostos quase não aparecem nesse mercado?
Foi com esse incômodo que resolvi entender melhor a situação dos modelos negros e indígenas no mercado brasileiro. A falta de representatividade não é um acaso. É o resultado de um sistema que, por séculos, excluiu esses corpos dos espaços de poder, beleza e influência. Hoje, essa realidade vem mudando – mas não sem lutas, resistência e inúmeros desafios.
Representatividade negra e indígena: mais do que estética
Falar sobre modelos negros e indígenas não é apenas falar de moda, mas de identidade, autoestima e pertencimento. Quando uma criança se vê refletida em um comercial, desfile ou revista, ela entende que também pode ocupar aquele lugar. Por isso, a presença desses modelos é essencial para romper padrões e ampliar o conceito de beleza no Brasil.
No entanto, por muito tempo, essa representatividade foi negligenciada. O padrão eurocêntrico ainda dita o ritmo das escolhas em agências, passarelas e campanhas, deixando de lado a imensa diversidade étnica do país. Romper com esse padrão significa enfrentar preconceitos enraizados e uma indústria historicamente excludente.
Visibilidade recente, mas ainda insuficiente
Nos últimos anos, a moda brasileira começou a dar sinais de mudança. Marcas têm buscado ampliar a diversidade em suas campanhas, e eventos como o São Paulo Fashion Week têm exigido cotas mínimas para modelos negros e indígenas. Essa visibilidade crescente é fruto da pressão de movimentos sociais, coletivos e profissionais que não aceitam mais o apagamento.
Modelos como Mahany Pery, Lais Ribeiro, Samira Carvalho, Tupinambá e outros nomes indígenas vêm ganhando destaque. Mas ainda estamos longe da equidade. A presença pontual não pode ser confundida com inclusão real. Ainda há estereótipos a serem quebrados e barreiras a serem derrubadas.
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Barreiras enfrentadas pelos modelos negros e indígenas
As dificuldades enfrentadas por esses profissionais vão muito além da passarela. Desde a seleção em agências até a contratação por marcas, há um filtro silencioso que privilegia traços eurocêntricos.
Além disso, muitos modelos negros e indígenas enfrentam questões logísticas, como acesso a testes, custos de transporte, falta de apoio familiar e até mesmo rejeição em seus próprios territórios. A exclusão começa na base e se reflete em toda a cadeia produtiva da moda.
Outro obstáculo é o exotismo. Quando são chamados para campanhas, muitas vezes os modelos indígenas são retratados com elementos caricatos, folclorizados, como se fossem “figurantes culturais” em vez de protagonistas autênticos.
Agências de modelos e o papel na transformação
As agências têm um papel estratégico nessa mudança. São elas que selecionam, promovem e vendem os rostos que vão representar marcas e conceitos. Felizmente, muitas delas começaram a rever seus critérios e abrir espaço para a diversidade.
Agências focadas em representatividade, como a “Jacaré Model”, a “We Are Models” e a “Indigenous Fashion Week Brazil”, têm sido grandes aliadas na inclusão de talentos diversos. Elas entendem que não basta ter um rosto negro ou indígena na campanha: é preciso garantir protagonismo, respeito e valorização cultural.
O papel das marcas e consumidores
Marcas que investem em diversidade autêntica se destacam e conquistam um público cada vez mais consciente. Empresas que incluem modelos negros e indígenas não só cumprem um papel social, como também se conectam com a verdadeira cara do Brasil.
Por outro lado, nós – consumidores – também temos responsabilidade. Cada vez que valorizamos campanhas inclusivas e questionamos marcas que perpetuam padrões excludentes, ajudamos a transformar o mercado.
A moda como ferramenta de resistência
A moda sempre foi uma forma de expressão. Para os modelos negros e indígenas, ela também é uma ferramenta de resistência. Estar na passarela ou numa campanha publicitária é afirmar: “eu existo, eu sou belo, eu sou digno de ser visto”.
Desfiles com temática ancestral, campanhas que resgatam raízes e marcas criadas por estilistas negros e indígenas mostram que a moda pode, sim, ser um espaço de luta e afirmação cultural.
Formação, acesso e oportunidades
Muitos talentos se perdem por falta de acesso. Por isso, iniciativas que oferecem formação gratuita, workshops e orientação para jovens negros e indígenas fazem toda a diferença. Projetos sociais, ONGs e coletivos têm atuado nesse campo, promovendo inclusão e preparando modelos para os desafios do mercado.
Ao mesmo tempo, é fundamental que essas oportunidades sejam contínuas e não apenas ações pontuais de marketing. Inclusão real é feita com compromisso, estrutura e presença constante.
Desafios ainda presentes
Apesar dos avanços, o racismo estrutural ainda impõe limites. Modelos negros e indígenas continuam sendo minoria nas grandes campanhas. A valorização plena de suas estéticas e culturas ainda é um caminho em construção.
Também é necessário avançar na formação de profissionais nos bastidores – diretores de arte, fotógrafos, maquiadores e produtores que compreendam e respeitem as especificidades culturais de cada grupo.
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O que impede a inclusão de mais modelos negros e indígenas? O racismo estrutural e os padrões eurocêntricos de beleza ainda dominam o setor.
Existem agências específicas para modelos indígenas? Sim, algumas agências e coletivos trabalham exclusivamente com talentos indígenas, respeitando sua identidade cultural.
Por que ainda são minoria nas campanhas? Além do preconceito, há falta de acesso, apoio financeiro e visibilidade para esses profissionais.
O que as cotas raciais na moda têm gerado? Maior inclusão em desfiles e campanhas, mas ainda há muito a se conquistar em igualdade real.
Modelos indígenas precisam se adequar ao padrão da moda? Não. A verdadeira inclusão acontece quando sua cultura é valorizada, e não moldada.
O que consumidores podem fazer para ajudar? Cobrar diversidade real nas campanhas, apoiar marcas inclusivas e valorizar estilistas e modelos de origem negra e indígena.
Como as escolas podem contribuir com essa luta? Através de uma educação antirracista e do incentivo à valorização das diferentes culturas brasileiras.
Quais marcas têm se destacado na inclusão de diversidade? Marcas como Farm, Natura e Dendezeiro têm se destacado por ações mais consistentes.
Qual a diferença entre diversidade e inclusão? Diversidade é presença. Inclusão é garantir espaço, voz e protagonismo real.
Qual o impacto da representatividade para jovens negros e indígenas? Aumenta autoestima, senso de pertencimento e reforça a ideia de que eles podem estar em qualquer lugar.
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Falar de modelos negros e indígenas é falar de justiça social, de reconstrução histórica e de ruptura com um sistema que por muito tempo os invisibilizou. A moda tem um papel simbólico e político na sociedade, e dar visibilidade a esses corpos é mais do que tendência – é reparação.
É preciso seguir lutando para que, no futuro, a inclusão não seja exceção, mas regra. E que os rostos que vemos nas vitrines representem, de fato, o Brasil em sua pluralidade, ancestralidade e beleza autêntica.